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Aonde vai com tanta pressa?

“Aonde vai com tanta pressa?”. Certamente, em algum momento da sua vida, você já fez essa pergunta para alguém, ou fizeram para você. Hoje, eu fiz para um pão. Não, não estou usando uma gíria para me referir a um indivíduo que é considerado bonito. Foi para um pão mesmo: massa de trigo, farinha, fermento e sal.


Todos os dias, por volta das 16 horas, eu ouvia o tal som característico dos pães chegando. Som da buzina utilizada pelos padeiros de rua. Geralmente é uma experiência vivida pelas pessoas que moram no interior ou, como eu, em uma rua sem

saída.


Moro no térreo de um sobrado, no final de uma travessa. Começava escutando o som da buzina, quando o pãozinho ainda estava virando a esquina, entrando na rua. Verificava se o cabelo e a roupa estavam apropriados, calçava o chinelo, procurava a carteira, pegava o dinheiro, abria a porta e me direcionava ao portão. Era como se sincronizássemos o tempo para o nosso encontro. Às vezes, eu o esperava, enquanto admirava os sorrisos dos meus vizinhos que também se preparavam para tomar o tradicional café com pão quentinho.


Quando o moço chegava com sua bicicleta, logo via o cesto grande de vime e os pães devidamente arrumados e cobertos por um plástico e um pano branco com bordado na ponta. “Boa tarde, quantos a senhora vai querer hoje?”. Enquanto respondia, me inebriava com o aroma. Entregava-lhe o dinheiro. Esperava o troco. Agradecia.


Ao chegar em casa, eu posicionava um na mesa, entre a xícara e o pote de manteiga. Assim aconteceu por alguns anos. Ritual que sinalizava a hora do descanso e reforçava em mim o gosto por uma vida em ritmo de apreciação.


O tempo, no entanto, passou. Hoje, raramente escuto a buzina do pão. Quando acontece, dificilmente chego a tempo. Neste instante, escrevo sentada à mesa, sem o pão. Não me vesti a tempo. Não calcei o meu chinelo a tempo. Não arrumei o meu cabelo a tempo. Eu e o pão não coordenamos mais o momento para o nosso encontro. Ele não vem mais de bicicleta. Agora está de carro. Um carro com a buzina que reproduz o som nostálgico da bicicleta. Ocasionalmente consigo chegar. Mas, o que teria acontecido?


Certo dia, o rapaz que dirige disse-me que a estratégia do negócio mudou. Reduziram os entregadores, porém precisam atender uma rota maior. Por isso o carro e a pressa em passar. Tempo é dinheiro. Esse é o grito do relógio. Entendo. Torço para que dê tudo certo. Infelizmente... O pão esfriou e o relacionamento também. A experiência mudou. Para pior.


Então, volto a olhar para a mesa. Café, manteiga e biscoito. Beth, você precisa se adaptar. Essa frase martela em minha mente. Necessito estar pronta para quando o pão passar, ou posso questionar o modelo atual? Sei que é fundamental ficarmos atentos e preparados para não perdermos as oportunidades. Mas, sei também que, muitas vezes, não há respeito ao tempo de fermentação. A massa desanda. O pão não cresce.


Aonde vamos com tanta pressa?


Abraço fraterno.

 
 
 

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