Essa tal felicidade
- bethsmorais
- 10 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de set. de 2024

Um dia me fizeram a pergunta: “Você é sempre assim, insuportavelmente feliz?”. Confesso que fiquei sem ação. Naquele momento não consegui encontrar uma resposta, pois na minha cabeça eu precisava ainda definir:
• O que seria ser feliz?
• Qual seria o peso do advérbio sempre?
• Insuportável para quem?
Na hora só consegui pedir desculpas. Sim, me desculpei por parecer feliz e até insuportável. Para minha sorte, a ausência desta resposta não pesou no resultado da entrevista. Entrevista? Exatamente. Essa dúvida quanto ao meu estado constante de felicidade aconteceu no meio de um processo seletivo para uma grande empresa. Apesar de não encontrar a resposta, eu fui contratada.
Agora, depois de tantos anos, essa pergunta voltou a ressoar em minha mente e resolvi, então, tentar entender as suas partes.
Sou avessa aos determinismos e reducionismos quando se tratam de fenômenos existenciais humanos. Palavras como sempre e nunca nos aprisionam a uma condição imutável e de permanência, impedindo-nos de transitar pelo quase ou pelo talvez, que nos permitem a dúvida, a crise, a possibilidade de escolher novos caminhos e provocar a mudança. Definitivamente o sempre não me representa.
No insuportável, evidencia-se o peso da subjetividade. Assim como a dor, o nível de tolerância acontecerá a partir do conteúdo interno de cada um, bem como o impacto que isso gera. De fato, não podemos nos culpar pelo outro não se sentir à vontade com a nossa suposta felicidade.
Quanto a essa tal felicidade, eu me deparei com alguns conceitos e elegi pontos de reflexão, após participar do curso online Felicidade sem fórmulas, com o professor e filósofo Leandro Karnal, no ano de 2020:
• A felicidade é uma possibilidade: devemos ser agentes e não terceirizá-la.
• O tempo é um forte elemento constitutivo da felicidade: o que eu faço com ele?
• A felicidade não deve ser cenográfica: o que eu faço tem significado para mim ou é uma encenação para o mundo?
• Como arruinar um projeto de felicidade? Trabalhar com a expectativa da perfeição. Somos perfectíveis e não perfeitos!
• Deixe-se contaminar por gente que possa somar: o cultivo de boas relações é um elemento de longevidade feliz!
• A felicidade é prática: pequenas decisões podem ser revolucionárias!
• Se o seu emprego e a sua carreira não estão permitindo que você SEJA, busque um lugar onde você possa SER!
Com alguns anos de atraso, encontrei a resposta.
• Se a felicidade está na tomada de consciência de que não existe um estado de permanência e as oscilações acontecem e fazem parte irremediável da existência, sim, eu sou feliz!
• Se a felicidade é sentir a minha humanidade, me permitir chorar nas adversidades, rir ou chorar de alegria, e sorrir quando dou de cara com um novo desafio, sim, eu sou feliz!
• Se a felicidade é ter uma relação familiar e com amigos, onde cuidamos para que uma convivência de respeito seja a prioridade, apesar das diferenças, sim, eu sou feliz!
• Se a felicidade é me permitir o silêncio e as pausas necessárias para que eu possa me escutar e organizar as minhas ideias, mesmo que por alguns minutos, sim, eu sou feliz!
• Se a felicidade está em viver a fé, exercitando a prática do bem, sim, eu sou feliz!
• Se a felicidade é um projeto de vida que exige escolhas e ação, sim, eu sou feliz!
Portanto, a felicidade não é uma estética. Não está no sorriso. Está no sentir e no sentido que encontramos para viver, mesmo quando as lágrimas se manifestam.
Acredito que a felicidade está em encontrarmos espaços que nos comportem, nos ampliem e não mais tentar entrar em lugares que nos reduzam, porque se é para ser, que sejamos inteiros e de verdade.
Abraço fraterno.
Comments