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Novos laços. Será?

Quem nunca sonhou em ter um robô como amigo? Sim, aquela figura de aço, com movimentos rígidos por falta de molejo nas articulações, voz metálica, luzes piscando e antenas. Nos anos 60/70, o seriado “Perdidos no Espaço” tinha o robô chamado B9 que encantava. Sua relação com Dr. Smith, personagem manipulador e egocêntrico, trazia para a trama um misto de ficção científica e comédia. Sonhávamos em ter um B9 para chamar de nosso. Mas, como?


Com caixas de papelão e restos de brinquedos quebrados dávamos forma ao nosso B9. Compartilhávamos com ele o nosso problema e contávamos com a sua “destreza tecnológica” para nos ajudar a solucioná-lo. A brincadeira durava horas e tinha a coparticipação de amigos. Simulávamos a pergunta e emprestávamos a nossa própria voz ao robô para achar as respostas. Às vezes discutíamos até encontrar o melhor caminho. Juntos.


No entanto, o tempo passou. Agora, somos adultos. O papelão é somente papelão. Os brinquedos quebrados se foram. Porém, o desejo por respostas permanece. Faz parte da condição humana. Essa inquietude é muito bem-vinda, se não fosse por um detalhe: a pressa. Não temos mais tempo para o processo. O tempo para a elaboração de uma resposta não pode demorar mais do que um segundo. Isso. Em um segundo temos um direcionamento para qualquer dúvida. A Inteligência Artificial (IA), com seu banco de dados, cruza informações e nos oferece múltiplas possibilidades de resolução. A caixa de papelão agora cabe na nossa mão. Em qualquer lugar, lá está o nosso robô.


Os avanços são inquestionáveis. Compartilhamos conhecimento com abrangência mundial de forma simultânea, temos milhares de contatos virtuais, aceleramos entregas, descobrimos a cura de doenças etc. Mas, infelizmente, nem tudo são flores. Em recente pesquisa do Instituto Gallup, 38% da população mundial se declara com pouca conexão com os outros. Segundo a Harvard Business Review, as principais aplicações da tecnologia em 2025 não são mais produtividade e criação, mas para conforto emocional. De aliada prática à conselheira emocional, a IA tem ocupado um novo lugar: a do amigo e terapeuta.


A busca por acolhimento emocional em máquinas não é uma tendência tecnológica, porém um sintoma social. Em um mundo acelerado, hiperconectado e solitário, a IA oferece algo fascinante: atenção instantânea e ilimitada, respostas prontas e ausência de julgamento. Mais do que uma ferramenta de pesquisa, se tornou o ambiente para “escaparmos” da falência das relações humanas. O esvaziamento dos afetos, a escassez das conexões reais e a precariedade do nosso repertório emocional para enfrentarmos os desafios existenciais deram à IA o lugar de compreensão para as nossas dores. Nada além de uma tentativa de criarmos soluções rápidas para vazios cada vez mais profundos. O alívio pode ser imediato e a dependência também. A sensação de termos uma companhia é apenas uma sensação mesmo. Continuamos sozinhos.


Em tempos de conexões artificiais e afetos programados, talvez o maior ato de coragem seja continuar investindo em vínculos humanos. Substituições não curam. Apenas adiam o encontro com a realidade.


E, nesse contexto de solidão crescente, bateu aqui uma saudade do robô B9... Ele era motivo para reunir os amigos. Rir. Brigar. Chorar. Fazer as pazes. Aprendíamos a ser gente encarando as dores e as delícias que envolviam o ato de crescer.


Então, quando foi que ficamos com medo, ou sem tempo, para os encontros? Digo, os reais, humanos e intransferíveis.



Abraço fraterno,

Beth Morais

 
 
 

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