O som da mudança
- bethsmorais
- 23 de out. de 2024
- 2 min de leitura

O que a impermanência nos ensina sobre autoconhecimento, adaptação e recomeços?
Hoje eu acordei cinza. Não, não pálida. Cinza. Sabe aquele dia em que a luz de dentro não acorda junto com o abrir dos olhos? É isso. Inconformada, fechei os olhos. Ali fiquei por um tempo, tentando organizar os pensamentos, na esperança de que, ao abri-los, me sentisse de outra cor.
Nova tentativa. Olhos abertos e... cinza. Sentei na cama, toquei o chão com os meus pés e espiei-me no espelho. Descabelada. Até aí, tudo normal. Reparei que, apesar de estar corada, o cinza não saía de mim. Levantei e, enquanto fazia a minha higiene pessoal, perguntei-me onde estaria o interruptor. O do banheiro eu achei. Estava procurando o meu.
Levantei algumas hipóteses sobre em que lugar, em mim, havia me desligado. Nada. Já que de dentro para fora não conseguia despertar, pensei que pudesse me provocar de fora para dentro.
Decidi caminhar um pouco pela orla de Icaraí, Niterói, na esperança de que ao sentir a minha pele aquecida, eu pudesse acender. Passos e pensamentos se harmonizavam para me oferecer, além do oxigênio necessário, uma possibilidade de organizar meus sentimentos e emoções. Mas, de repente, um som atravessou o meu ritmo e, logo em seguida, silenciou. Passos. Pensamentos. Som. Silêncio.
Parei e meu instinto investigativo me levou na direção daquele barulho irregular. Perto da grade, que separa o calçadão da areia, olhei para baixo e o que vi era o mar recuando. Silêncio. Enquanto observava o mar se recuperando para novamente avançar, reparei que a areia estava coberta por pedrinhas. Pequenas, amontoadas e de formatos desiguais. Pareciam bem. Acomodavam-se do jeitinho que dava. Mas, ao levantar os olhos, ele veio. O mar, sem grande força, porém com volume e velocidade suficientes, se apropriou de todo o espaço. Tudo ficou cinza. Não conseguia mais ver o brilho das pedrinhas. No entanto, o mar não permanece. Ao iniciar o seu movimento de retirada, o som, sim, aquele que me chamou atenção, se fez presente. Era um barulho coletivo, de pedrinhas se chocando na tentativa de se acomodarem novamente e, assim, descobrirem um novo lugar para ficar. Configuração atualizada. Silêncio. Aqui percebi que enquanto essa fase da maré não passasse, um novo barulho aconteceria e uma nova configuração se formaria. Ciclos.
Nesse momento encontrei o interruptor. Acendi-me! Ao me olhar, percebi que uma nova tonalidade começou a me colorir. Sim, forças externas nos deslocam. Resistimos. Reconfiguramos. Seguimos. O mar se afastou, mas ele vai voltar. Sempre volta. O que fazer? Bem, nesse intervalo vou escolhendo uma nova paleta de cores.
É vida que se fala, né?
Abraço fraterno.
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