Que bom que você ficou!
- bethsmorais
- 12 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Decidimos marcar um encontro. Apesar de gostarmos de conversar, há tempo não destinávamos um horário só para nós duas. Não muito raro, sinto saudade dela. Gosto quando, juntas, relembramos o caminho desenhado até aqui.
Ao perguntar a ela sobre o local e horário, escolhemos um cômodo da casa onde ficássemos mais à vontade, ouvindo apenas o som da sobreposição do tempo e da nossa voz. Como sei o quanto gosta do despertar do dia, agendamos o nosso encontro para o amanhecer.
Dia nascendo, levantei. Abri a porta do armário para escolher como me vestir. Ao passar os meus dedos pelas roupas, parei naquela que me proporcionaria mais conforto. Um vestido leve, floral. Combina comigo. Combina com ela. Os pés, optei por deixá-los descalços. Lembrei que gostamos dos pés livres.
No horário marcado, cheguei. Ao levar a minha playlist, recordei que a música faz parte da nossa história. Lembro quando ela tentava sintonizar a estação por meio de um botãozinho que ficava na lateral do rádio. Quantas vezes ela não ouviu música cheia de ruído! O tempo passou e agora já temos a nossa playlist no Spotify. Digo nossa, porque sei do que ela gosta, e faço questão de fazê-la feliz.
Enquanto a música tocava, observava o cômodo, e decidi sentar no chão sobre uma almofada. Era assim, que na maioria das vezes, as brincadeiras aconteciam. Enquanto esperava, tentava buscar a melhor posição na almofada. Antes era mais simples. Agora, as pernas cresceram e a flexibilidade não é a mesma. Tudo bem. Fecho os olhos. Inspiro profundamente. Solto o ar devagar. Abro os olhos. Pude senti-la se aproximar.
Chegou com um sorrisinho meigo e olhos brilhantes. Linda, inocente e feliz. Retribuí o sorriso. Admito que fiquei tímida diante daquela menina. Ao me observar, falou que enquanto eu crescia, me acompanhava, e que sentiu, quando, em determinado momento, eu me afastei dela. “Acho que foi naquela época em que você precisou mostrar para o mundo o quanto era adulta”, disse-me. Pedi desculpas e me justifiquei, apresentando os motivos toscos que fazem com que calemos a nossa voz infantil.
Durante o tempo em que a ouvia, pude perceber o quanto dela permanece em mim. Claro que, passando a fase de ter que responder às expectativas sociais, me permiti retirar a névoa dos meus olhos, da minha mente e do meu coração.
Hoje, o meu sorriso é largo, a minha gargalhada é alta e o meu choro deságua quando tenho vontade. Não reprimo sentimentos e emoções. Danço livremente, nem sempre conforme a música. Me autorizei a ver poesia em tudo que os meus sentidos alcançam; até nas pessoas. Continuo acreditando no amor. Sinto que viver sem amar seria o fracasso da minha existência. Aprendi com essa menina.
Enfim, com um abraço demorado, nos despedimos. Agradeci por ela ter ficado em mim. E assim, com a voz da infância, me (re)encontrei.
Abraço fraterno.
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