É sobre o destino, o caminho e a bagagem
- bethsmorais
- 18 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de set. de 2024

O destino era chegar a uma fazenda no interior do estado do Rio de Janeiro. Enquanto percorríamos uma estrada de terra que nos distanciaria do asfalto em média 20 quilômetros, decidimos parar para beber água.
O cenário era uma vendinha (pequena mercearia) no meio do quase nada que vendia quase tudo. Atrás do balcão um pouco empoeirado, dois irmãos de uma família de onze. Com eles as marcas deixadas por histórias de uma infância de muita lida na roça e de felicidade traduzida nas peraltices de criança. Um tempo, quando correr livremente, tomar banho de rio e jogar futebol em um campo improvisado com uma bola surrada eram acontecimentos de grande importância.
Encostada no balcão, eu ouvia atentamente suas doces lembranças, enquanto o ambiente se preenchia de emoção. Apesar de estar inteiramente envolvida naquele lugar, o destino final era a fazenda Santa Maria do Rio Grande. Combinamos, então que, no retorno, pararíamos para comer um peixinho gentilmente oferecido por eles. Ao chegar à fazenda, logo senti a energia que ali pulsava. Lugar lindo, do ano de 1810, pertencente ao ciclo do café. Arquitetura que caberia em qualquer novela de época. Com certeza um turismo rural e histórico imperdível. Fiquei atenta aos detalhes e me permiti levar dali tudo o que meus olhos conseguiram ver, o que minhas mãos registraram no toque e a minha imaginação criava. Apesar do ambiente encantador, precisaríamos voltar, pois havia uma vendinha com um peixinho fresco nos esperando. Chegando à vendinha, novamente, fomos recepcionados com afeto e acolhimento. Escolhemos uma mesa e fizemos nosso pedido. Prontamente, um dos irmãos veio nos atender. Um senhor entre 60 e 70 anos, de cabelos brancos e pele morena. Ao vê-lo fora do balcão, observei sua elegância. Usava uma camisa de tecido e botões sobre uma calça jeans bem cortada. Bem, nos pés... uma sandália de borracha, de marca famosa. Uma de cada cor! Pensei que, diante daquele sorriso largo e olhos brilhantes, ele poderia estar até descalço.
Depois de uns 10 minutos de boa prosa, parou um carro e saltou um homem descalço. Ao saltar disse que não quis perder tempo procurando os sapatos. Parecia estar muito feliz.
Em poucas horas de passeio, confesso que aumentei a minha bagagem. Na verdade, materialmente falando, não comprei nada na vendinha e nem trouxe nada da fazenda. Porém, acumulei sensações, percepções e muito, muito aprendizado sobre gente. Gente que brilha de chinelo de cor diferente ou descalça e que faz suas histórias brotarem sobre o chão de terra.
Se eu posso estar descalço, por que perder tempo procurando o chinelo? Por quanto tempo adiamos momentos de felicidade por achar que ainda nos falta algo ou que estamos inadequados? Inadequados para quem? Para onde? Para quê? Como a simplicidade nos faz transbordar por dentro! Ah... e o quanto os excessos nos atrasam para os encontros que realmente importam!
O destino é uma intenção de chegada que nos orienta na direção, mas o caminho é o que nos abastece de conteúdo de vida. Aqui está valendo o excesso de bagagem!
Por mais vendinhas no meio do caminho!
Abraço fraterno.
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